Como apresentei no primeiro post, muitos são os desafios que a saúde e o campo da alimentação e nutrição encontram atualmente. Posso dizer que o maior deles hoje, no Brasil e em diversos países do Mundo, é o aumento no número de pessoas com obesidade, em todas as fases do curso da vida e entre todas as camadas sociais.
Quando comparamos os dados de obesidade do Brasil com outros países, percebemos que a prevalência atual (cerca de 15%) se encontra no grupo do intermediário. Nas Américas encontramos valores que variam 8,0% (homens cubanos) a 34,5% (mulheres mexicanas). Nos outros continentes a situação não é diferente, por exemplo, na Austrália 18,4% da população adulta apresenta obesidade, Inglaterra 23,5%, Espanha 11,6%.
O nosso país tem um histórico peculiar de mais de 30 anos de avaliação do estado nutricional da população adulta, com estudos financiados e apoiados pelo Ministério da Saúde, que nos permitem observar claramente a evolução da situação. No ano de 1975, apenas 2,8% dos homens e 7,8% das mulheres eram obesos; em 2003, os valores já sofreram aumento, quadruplicando entre os homens (8,8%) e praticamente dobrando entre as mulheres (12,7%). E os valores não param de aumentar: em 2009, a prevalência de obesidade era de 12,5% entre homens e 16,9% entre as mulheres. É importante olhar não apenas para os valores de obesidade, o sobrepeso (pessoas com IMC entre 25 e 30 kg/m2) atinge cerca de 35% dos adultos e, assim, o excesso de peso (sobrepeso e obesidade) é hoje uma realidade para metade dos adultos brasileiros.
Todos sabemos que a obesidade é um desbalanço energético: o consumo é maior que o gasto. E representa muito mais do que o peso excessivo do indivíduo: ela é um dos fatores que pode levar a doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de cânceres. A soma de todos esses fatores leva a diminuição na expectativa de vida das populações e essas doenças podem gerar sequelas que afetam a qualidade de vida e a capacidade produtiva. A manutenção do peso dentro dos limites saudáveis deve ser uma meta para toda a vida, com um olhar especial para grupos, como as crianças, adolescentes, mulheres grávidas e no puerpério.
Os desafios são grandes e envolvem diferentes setores da sociedade: as famílias precisam ter acesso adequado a alimentos básicos, frutas, verduras e legumes; as comunidades precisam de espaços seguros e adequados para a prática de atividade física e de lazer. O serviço de saúde tem que se capacitar e usar todas as suas possibilidades para acolher as pessoas com excesso de peso e apoiar o alcance do peso saudável, e com isso, a melhoria na qualidade de vida. Medidas de proteção, como a regulamentação da propaganda de alimentos altamente processados, que está na pauta de discussão do Ministério da Saúde e da ANVISA, também se mostram efetivas e já são adotadas em alguns países como uma medida de combate à obesidade, principalmente entre as crianças.
No enfrentamento da obesidade, a PNAN já reconhecia desde 1999, a doença como uma de suas prioridades, o Brasil é um país signatário da Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, publicou a Portaria (Portaria MS nº 1.569 de 28/06/2007), que instituiu diretrizes para a atenção à saúde, com vistas à prevenção da obesidade e assistência ao portador de obesidade além da Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 408 (11/12/2008) que trata do tema. Mas todos esses esforços não foram suficientes para conter o aumento da obesidade. Sob essa ótica, o Comitê Técnico 6 da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional – CAISAN (composta por 19 Ministérios) está discutindo e elaborando o Plano Intersetorial para Prevenção e Controle da Obesidade. O documento pretende articular os diversos setores com o objetivo não só de conter a obesidade na atual geração com reduzir as taxas entre as futuras gerações. No âmbito do Ministério da Saúde, também estamos desenvolvendo o Plano de Ações Estratégicas para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil para essa década (2011-2022). Os dois planos caminham em consonância, com fortalecimento das ações intersetoriais na Saúde e fortalecimento das ações da Saúde no âmbito intersetorial.
O desafio de reverter o atual quadro da obesidade exige esforços de todas as áreas e setores da sociedade. Para que isso ocorra, são imprescindíveis ações articuladas dos diversos setores do governo e da sociedade como as Universidades, ONGs, Organismos Internacionais, mídia, setor produtivo entre outros. Somado a isso é preciso garantir que as informações veiculadas para a população sejam informações idôneas, livre de conflitos de interesses, proveniente de fontes de dados confiáveis, baseadas em evidências com comprovação científica, que não gerem riscos para a saúde dos indivíduos e da população e que estejam em consonância com as proposições acordadas pelo Estado (MS e governo) e o controle social.
Na próxima semana tratarei do movimento que o Ministério da Saúde e a ANVISA vem fazendo para modificar o perfil nutricional dos alimentos processados.
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